Pensando bem, eu nunca precisei de ninguém para dizer o quanto eu estou feliz. Se cheguei até aqui sozinha é a prova de que sempre terei a mim... Não importa a profundidade do poço... Eu estarei disposta a escalar cada centímetro até a borda. Já tive muito tempo perdido, palavras sem sentido, vozes que ficaram ecoando aqui dentro. E sempre estarão... Lá no fundo eu as escutarei. Depois que te perdi tive medo de mudar, pois construi minha vida ao redor da sua... Mas o tempo passa, crianças crescem e eu também.
O fato é que eu irei me levantar a cada queda. Não irei me afundar no chão no qual você se enterrou. Tentei segurar sua mão enquanto tudo desmoronava e recebi a pior das reações. Você teve a melhor parte de mim e toda a minha força. Ela se esgotou. Você foi tudo pra mim um dia e agora só restam lembranças que um dia eu apagarei. Segui em frente e a aprendi com os seus erros e os meus. Todos os problemas caídos nos meus ombros e mesmo assim eu os ignorei e fui ficando cada vez mais leve.
Machucados doem. Os sentimentais mais ainda. Ninguém pode falar por mim, só eu sei que você significa pra mim. Silencio. Essa é minha opinião final e não mudarei. “O que você fará quando as paredes começarem a cair?” Você nunca se mexeu ou sequer emitiu algum som. Eu absorvi aquilo que achei mais importante. O resto foi experiência. Vi tudo o que era certo e errado. Separei meus mundos, tudo o que eu gostava de verdade estava morrendo ou desaparecendo aos poucos. Só vemos aquilo que queremos e nos tornamos aquilo que desejamos. Naquela época eu não desejava muita coisa. Só queria paz e me contentei em estar respirando e vivendo pra alguém, não por mim.
Cansei de dizer que nada poderia me afetar. Não mudar o tom da voz, não me descontrolar. Conheci bem os efeitos de não ter ninguém pra confiar. Aumentar o volume da música ajudava muito. Não havia nada para dizer. Soltei as minhas mãos das suas e procurei viver mais do que palavras. O amanhã não podia ser igual, teria que ser mais... Muito mais do que promessas falsas sob luzes apagadas. Nada mudou além do meu sorriso... Foi mais fácil, mais leve, fechar os olhos e se controlar.
É como ter um diário todo em branco após uma vida cheia. Sem expressão, emoção. É difícil dizer, pessoas andando em círculos sem objetivo definido. Ninguém me conhece. O reflexo diz: “Vá em frente, aumente sua fé”. Eu queria só lembrar como era antes, sinto falta do seu carinho. Consegue se lembrar quando éramos tão vivas? Aqui estou parada agora, quero ser forte e voltar a me sentir a mesma para fugir, depois que as coisas mudaram. Feche os olhos... Consegue se lembrar? Pegue seu tempo, pegue o meu, volte, eu sei que podemos.
Não fique muda ao me olhar, eu também não sei o que fazer. Meu coração bate forte, já não há mais nada a dizer. Eu deixei você ir, eu tentei lhe seguir. Porém você não queria me acompanhar e me perdi sozinha, sem apoio. Senti-me pequena, desencorajada. Suas palavras seguras se tornaram um abismo diante dos meus pés. Eu aprendi a me proteger dessas armadilhas, engoli o ódio e matei as borboletas da minha barriga. Uma a uma.
Poderia eu me dar um pedaço de alma? Estava difícil voar. Sonhos fora do ritmo. Enquanto eu desmoronava você assistia escondida na multidão. Eu vi de tudo, eu vi cada coração, cada vida, cada lágrima, cada escuridão, cada suspiro, cada promessa. Eu estava doente, mas bonita. Eu estava cansada, mas trabalhando. Eu não me importei, mas dei valor. Eu estava sem coração, mas amigável. Eu estava triste, mas sorrindo. Foram dias difíceis, mas me fizeram brilhar. O tempo tem que passar. Eu sabia que tudo daria certo. Tudo está certo.
Eu escalei uma montanha e me virei, vi meu reflexo numa gota de água e a chuva a levou embora. E eu ainda estou aqui. E onde está você agora?
Jess
