A confiança nunca foi meu forte e já percebi
isso há muito tempo. Há alguns anos condenei pessoas e deixei de confiar nelas.
Ando olhando para o chão, para os lados e para trás quando ouço algum barulho
estranho. Nem os fones de ouvido no volume máximo podem me fazer esquecer o que
acontece ao meu redor. Lembro-me de um
dia chuvoso em que eu estava fazendo compras com minha mãe e um senhor munido
de guarda-chuva aproximou-se e nos ofereceu “carona” de guarda-chuva até o táxi
mais próximo. Minha mãe aceitou. Sim, simplesmente assim, como se o senhor
fosse um conhecido de anos. Eu fiquei muito intrigada com tudo aquilo, afinal
ela havia me ensinado a nunca falar com estranhos. Saí correndo furiosa e
desconfiada, recusando-me a andar embaixo do guarda-chuva de um desconhecido.
Ele poderia ser um assaltante ou até mesmo um aproveitador e eu não iria cair
nessa. Minha mãe reprovou minha atitude e isso me rendeu alguns tapas. O senhor
apenas riu e comentou o ocorrido: “– Nossa, que desconfiança! Calma aí,
mocinha”. Eu não poderia ir embora sem me defender: “– Não te conheço e não sou
obrigada a falar contigo!”. Minha mãe a essa altura estava querendo me esganar
com os olhos. O táxi partiu e minha mãe colocou a mão sobre o meu ombro e
perguntou por que eu agi daquela forma. Apenas respondi que fiquei com medo.
Sim, medo. Ora, o desconhecido sempre dá um pouco de medo. Nunca se sabe o que pode
acontecer... Na época eu tinha seis anos e não sabia direito o significado das
coisas. Só sabia do que eu não gostava e não queria mudar de opinião. Minha mãe
riu e seguimos pra casa em silêncio.
Acredito que
foi nesse dia que descobri o significado da palavra confiança. Eu apenas havia sentido medo daquele pobre
senhor que só estava querendo ajudar (ou não). Eu não sabia que o nome disso
era desconfiança. Depois que aprendi, nunca mais esqueci. O “pé atrás” está
sempre me puxando e me dizendo pra tomar cuidado. Talvez seja meu pior defeito
senão o maior e o mais perturbador.
Contudo,
quando uma pessoa me passa segurança é diferente. Há um ano e quase cinco meses
sinto que a minha confiança tende a ficar mais forte a cada dia que passa. O
abraço apertado, o olhar cativante e as mãos acolhedoras provam que é possível
sim, confiar. É diferente porque eu sei
que vale a pena, cada minuto. Eu aprendi
a confiar naqueles que são bons pra mim e que demonstram um sentimento mútuo.
Conheço casos
de pessoas, principalmente casais, que possuem uma relação de confiança muito
forte, porém não deveria ser assim. Sei que sou ninguém pra falar sobre isso -
ainda mais sobre a vida dos outros -, mas é triste quando vejo que de um lado a
confiança é extrema, porém o outro usa isso a seu favor e comete os piores
erros, os quais podem destruir a confiança que têm um pelo outro. Fico muito
triste e ao mesmo tempo irritada com essas pessoas cegas que confiam demais. Eu
não as culpo. Apenas se apegam fácil demais e, infelizmente, o sofrimento é
proporcional. É tudo bem confuso e cada um sabe de si. Cada um tem seus
critérios, seus motivos, seus medos.
Seguidamente
lembro-me da história do senhor do guarda-chuva e rio de mim mesma. Hoje eu
teria uma atitude bem diferente. Talvez tivesse aceitado a carona - com certa
desconfiança, mas aceitado. Quando somos crianças tudo é mais exagerado: o
choro, o grito, a risada. Com o tempo acabamos perdendo a espontaneidade e
ganhando a maturidade para entender algumas coisas. Acredito que se minha mãe
nunca tivesse dito aquela frase típica: “Nunca dê conversa para estranhos” eu
não seria tão desconfiada assim. É apenas uma suposição, claro. Realmente não
devemos conversar com estranhos quando somos pequenos e vulneráveis. Não a
culpo por eu ser assim hoje, mas de certa forma me ajudou.
Em algum lugar
dentro de nós há muitas respostas. Enquanto isso somos prisioneiros dos nossos
medos, de nossas manias fúteis e nos tornamos pessoas confusas, inventando respostas pra tudo. E as
características gravadas em cada um, nos definem tal como somos, tal como
viemos e tal como iremos. Só nos resta aceitar e tentar entender. Criando
ilusões e esquecendo-se de viver – a principal missão de cada um de nós.