Archive for novembro 2012

Eu só tenho que chegar em casa




Porque tudo tem que ser assim tão difícil? No início parecia ser tudo mais simples, mais natural.
Não sei que direção tomar, não sei o que fazer. 

Meu medos estão me consumindo e me sinto presa, sem conselhos.
É fácil dizer que tudo vai dar certo  quando alguém está ali a vida inteira contigo, nunca te abandonou. 

Quem cai uma vez nunca se recupera do tombo. Até pode, mas não totalmente.
Por que não consigo mais sentir?  Tive tempo o suficiente para desistir, mas algo me mandou de volta. Pra quê?
Pra perambular por aí?
Pra enfrentar tudo sozinha de novo?
Não, obrigada.
 
Falta o apoio, falta a vontade, falta a coragem.
Falta a essência, o mesmo sangue, a mesma família...
Nem sempre é o suficiente, sabe?
Não, não é.

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O que não for leve, que o vento leve



O ano era 2006, a idade era 15. Não sei ao certo, talvez tenha sido o pior ano da vida dela.
Ela parecia ter tudo, mas no fundo não tinha muita coisa. Pais separados e aquela indecisão. Cidade errada, hora errada, vida errada. 

A mãe era presença rara em casa, o pai então nem se fala. Todos fingindo se importar e tudo o que ela queria era estar em outro lugar, sozinha. O sorriso era tímido e o olhar era frio. As mãos sempre suadas e geladas, uma aparência que refletia sua vida conturbada. Roupas pretas, olhos marcados e cabelo cumprido. Na escuridão absoluta, a menina seguia em frente. Mesmo sem enxergar direito, ela iluminava seu caminho como podia.

Os amigos eram escassos. Nunca teve alguém para compartilhar certos assuntos e acabou se tornando egoísta. Afinal, ninguém se importava. Eram sempre as mesmas perguntas com as mesmas respostas. Ela ficou muito tempo naquele ciclo errado, com as pessoas erradas, com razões erradas no lugar errado. Os sinais a levando pra qualquer lugar. Ela não se importava, se ninguém se importasse. 
 
O cenário era carente de conversas, a televisão e o rádio eram suas melhores companhias. De vez em quando se ouvia uma batida de porta furiosa ou um choro abafado. Horas e horas acordada, pensando de cabeça vazia. Cansaço infinito, olhos de ressaca.  Gostava de escrever e despertou certo gosto pela leitura. Diversas vezes, expressou no papel o que estava sentindo. Era como libertar o seu demônio interior e acalmar o coração. 

O quarto era simples: uma escrivaninha, um espelho, uma cama, um guarda-roupa, um rádio e uma televisão. Não possuía bichinhos de pelúcia nem mimos. E era ali que ela gostava de passar a maior parte do tempo, pensando se algum dia tudo iria acabar.

Já não acreditava em Deus ou algo parecido, saía à noite vagando pelas ruas sem medo. O vento aliviava as feridas escondidas embaixo das mangas e levava tudo embora. A raiva, o medo, o vidro quebrado, o braço marcado. No rádio, músicas que falavam por ela. Palavras fortes e que podiam traduzir o sentimento angustiante.


Passou diversas noites acompanhada pelo som baixinho do rádio, um piano singelo, uma voz doce. Às vezes ela preferia o silêncio ou até mesmo um filme mudo de madrugada. A companhia que ela realmente queria estava lá fora em algum lugar, em qualquer canto, menos ali. Essa vontade de querer e não poder... Dói. 

Sentada na calçada, ela observava as pessoas indo e vindo. Passeando, correndo, sorrindo. A mente dela já não conseguia mais entender os mais simples sinais de vida humana. Era tudo tão surreal, irreal e falso. Será que estava ficando louca? Ela estava machucada demais para perguntar-se.

Certa noite acordou assustada, respirar era difícil. Seus pés não conseguiam tocar o chão e seu coração batia forte. Parecia o fim de tudo. Simplesmente o fim. Com os olhos ainda fechados, uma voz sussurrou em seu ouvido “não desista, respire fundo”. E então ela abriu os olhos e respirou. Tão fundo que podia sentir o sangue em suas veias novamente. 

A menina começou uma nova vida. Lembrou-se da criança que ainda vive dentro dela. O olhar inocente, o sorriso verdadeiro e os sonhos brilhantes. Não poderia terminar ali...

Ela cansou de implorar, parou de se machucar por aqueles que não se importavam. Fechou o capítulo escuro, rabiscado e começou a preencher suas folhas em branco. 

O pesadelo teve fim. Novos ares, novas pessoas, novos sentimentos. Talvez ela estivesse doente e fraca demais para acreditar. 

As páginas antigas estão amassadas, talvez amareladas pelo tempo, mas nunca foram esquecidas...

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Um relato sobre o amor



Ele acabou esquecendo todas as rosas na porta da casa dela. Ela não o escolherá só porque esperou tanto tempo. Ela disse nunca mais, mas também o pedia para ficar. Uma tortura sem fim e todo mundo sabe que a cicatriz permanece. Ele fechou todas as janelas, mas o vidro quebrado deixava penetrar todo o frio do passado. Não se pergunta nada, não lembra. Simplesmente deixou o tempo “curar”.

As memórias voltam quando ele a encontra numa rua qualquer ou quando lê algum texto antigo, apaixonado e cheio de declarações. Os olhares tornam-se frios e o assunto escasso.

Como pode? “Ela nem é tão bonita assim”, todos comentavam.

Não valia a pena correr atrás, mas o amor é um sentimento estranho e cruel às vezes. A mãe nem desconfiava de nada, mas no fundo queria que algo desse certo. Afinal, era uma menina tão educada e com escrúpulos. Para o filho, a pessoa mais cruel e fria do mundo.

Quando não é pra ser, não insista.

Um dia ele resolveu voltar e quando chegou à casa dela, avistou as rosas secas e maltratadas pelo tempo. Sem cuidados e sem vida.

Foi aí que ele escutou a voz da razão, arrependeu-se e prometeu que nunca mais iria repetir o mesmo erro. Ela amava aquilo o que ele não queria ser. Ele amava tudo o que ela era. Sentimentos sem sintonia. Nada poderia uni-los.

Pobre rapaz, nunca esquecerá o que passou.

Ela sempre será seu primeiro amor por mais doloroso que isso possa ser e por mais que existam outras meninas lá fora.

O que ele se tornou foi consequência.

Ele seguiu e encontrou uma menina qualquer. Nada demais, apenas uma mortal de carne e osso. Ela olhou pra ele e disse: se quiser um pouco de amor, coloca a mão no meu ombro.

Vou ser legal, eu prometo. Ela veio de muito longe só para encontrá-lo. Caiu como uma estrela cadente em seus olhos e quase o deixou cego. Por muito tempo ela teve que viver sob a sombra de seu coração. Aquela assombração do passado a aterrorizava e ela não podia fazer nada.

Aos poucos ele foi esquecendo e parou de comparar todas as meninas do mundo com aquela que dizia ser a dos seus sonhos. Foi até o jardim mais próximo, colheu rosas vermelhas e as colocou na porta da nova menina. Ela as recolheu, as colocou em um vaso com água e as cuidou tão bem que até hoje estão vivas e vermelhas.

A nova menina lhe deu forças pra seguir e nunca mais olhar pra trás. O sol está brilhando em ambos os lados e o amor está sendo cultivado todos os dias. Como pode alguém fazer do amor algo tão ruim, destrutivo e obscuro? Depois de quase desistir, ele descobriu que ainda é possível.

A menina da realidade mostrou o caminho e o carregou em seu coração pra sempre.

Sem medo de se entregar, finalmente, ele deu uma segunda chance ao amor sem esquecer-se daquela que o fez chorar e que, principalmente, o fez crescer, mudar e perceber que o amor é muito mais do que uma vez ele pensou ser.

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