Um relato sobre o amor



Ele acabou esquecendo todas as rosas na porta da casa dela. Ela não o escolherá só porque esperou tanto tempo. Ela disse nunca mais, mas também o pedia para ficar. Uma tortura sem fim e todo mundo sabe que a cicatriz permanece. Ele fechou todas as janelas, mas o vidro quebrado deixava penetrar todo o frio do passado. Não se pergunta nada, não lembra. Simplesmente deixou o tempo “curar”.

As memórias voltam quando ele a encontra numa rua qualquer ou quando lê algum texto antigo, apaixonado e cheio de declarações. Os olhares tornam-se frios e o assunto escasso.

Como pode? “Ela nem é tão bonita assim”, todos comentavam.

Não valia a pena correr atrás, mas o amor é um sentimento estranho e cruel às vezes. A mãe nem desconfiava de nada, mas no fundo queria que algo desse certo. Afinal, era uma menina tão educada e com escrúpulos. Para o filho, a pessoa mais cruel e fria do mundo.

Quando não é pra ser, não insista.

Um dia ele resolveu voltar e quando chegou à casa dela, avistou as rosas secas e maltratadas pelo tempo. Sem cuidados e sem vida.

Foi aí que ele escutou a voz da razão, arrependeu-se e prometeu que nunca mais iria repetir o mesmo erro. Ela amava aquilo o que ele não queria ser. Ele amava tudo o que ela era. Sentimentos sem sintonia. Nada poderia uni-los.

Pobre rapaz, nunca esquecerá o que passou.

Ela sempre será seu primeiro amor por mais doloroso que isso possa ser e por mais que existam outras meninas lá fora.

O que ele se tornou foi consequência.

Ele seguiu e encontrou uma menina qualquer. Nada demais, apenas uma mortal de carne e osso. Ela olhou pra ele e disse: se quiser um pouco de amor, coloca a mão no meu ombro.

Vou ser legal, eu prometo. Ela veio de muito longe só para encontrá-lo. Caiu como uma estrela cadente em seus olhos e quase o deixou cego. Por muito tempo ela teve que viver sob a sombra de seu coração. Aquela assombração do passado a aterrorizava e ela não podia fazer nada.

Aos poucos ele foi esquecendo e parou de comparar todas as meninas do mundo com aquela que dizia ser a dos seus sonhos. Foi até o jardim mais próximo, colheu rosas vermelhas e as colocou na porta da nova menina. Ela as recolheu, as colocou em um vaso com água e as cuidou tão bem que até hoje estão vivas e vermelhas.

A nova menina lhe deu forças pra seguir e nunca mais olhar pra trás. O sol está brilhando em ambos os lados e o amor está sendo cultivado todos os dias. Como pode alguém fazer do amor algo tão ruim, destrutivo e obscuro? Depois de quase desistir, ele descobriu que ainda é possível.

A menina da realidade mostrou o caminho e o carregou em seu coração pra sempre.

Sem medo de se entregar, finalmente, ele deu uma segunda chance ao amor sem esquecer-se daquela que o fez chorar e que, principalmente, o fez crescer, mudar e perceber que o amor é muito mais do que uma vez ele pensou ser.

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